sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Gerardo Mello Mourão 5

Pavana das putanas de Copacabana

[...]
De Koenigsallee a Koenigswinter tu,  
outono da alcova e noite - de onde? -  
musa do quarteirão - "je vous emmène?" - quem  
de nós te levaria  
em salva de mãos de prata dessa  
pavana das putanas de Copacabana?  

Enumerasse as cidades e as ruas  
e ao nome delas  
teu rosto respondera:  
foi assim em Florença aquela noite quando  
o lírio floresceu na pedra  
quando  
o lírio boiou nas águas do Arno e as Sabinas  
de onda e lírio  
raptavam os soldados e os turistas:  

Elvira Lopes abrira  
da feira de Crateús ao patamar da Igreja dos Teatinos  
de Munich a dança  
da pavana das putanas de Copacabana.     

Bem que amais enumerar o inumerável:  
como rompeis o sono dos catálogos  
à veia das cidades:  
"Frauen, mein Herr, Kaerntnerstrasse, die Graben, Viena";  
Por que não sai o Rei Baudouin à Porta de Namur e o Rei dos  

Céus à Porta Saint Denys,  
quando a rosa dos ventos desabrocha nos olhos  
e as que foram perdidas são achadas  
e nos Champs Élysées, no Boulevard des Italiens e na Chaussée d'Ántins surgem do mapa, surgem  
das partituras madrilenhas da Gran Via
ao ensaio  
da pavana das putanas de Copacabana.
[...]    

"Três Pavanas", Gerardo Mello Mourão

(Gerardo Mello Mourão nasceu no dia 8 de Janeiro de 1917. Morreu em 2007.)

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