domingo, 6 de dezembro de 2020

Joanyr de Oliveira 4

New York City

Os altos ponteiros da noite
apontam exaustos para o céu.
A chuva choraminga e cai
nos pés da Quinta Avenida.

Um negro talvez do Harlem,
rouca voz angelical,
oferta o reino de Deus.
Judeus de barba e casacos
em três manadas de espantos
a derramar-se na esquina.

Trinta passos saltitantes
a expor com jeito os trejeitos
contra vitrinas e nomes.
Um rio a jorrar piranhas
sobre o passeio apinhado.

A Estátua da Liberdade
matreira sorri no escuro
do topo de sua glória
e eis "The New York Times"
a pontificar soberbo
para reinos e universos.
Fumaça apunhala o ar,
conduz o peso das vidas.
Sonhos flutuam seus braços
em altas viagens brancas.

Passam passos de Al Capone,
passam dráculas.
Passam lânguidos
sobre fantasmas de bondes.
Há mortos embriagados.
Casais de corvos de Pöe
escarnecem da Lei Seca.


(Minas Gerais nem suspeita
deste doido mundo esconso.
Juntinhos na madrugada,
seus profetas ressonam…) 

Joanyr de Oliveira

(Joanyr de Oliveira nasceu no dia 6 de Dezembro de 1933. Morreu em 2009.) 

Sem comentários:

Enviar um comentário