Seria um casal patusco, se não fosse trágico. Desengonçados ambos,
cómicos no vestir, feiinhos graças a Deus, testo e panela emparelhados
de encomenda. Cirandam pelas ruas de Matosinhos todos os dias, de
manhãzinha à noite, de braço dado, num andar de procissão e olhos
caídos, passando o chão a pente fino à cata de piriscas reutilizáveis.
Ele,
posto que zarolho, tem visão de longo alcance ou então algum radar que
eu não sei. Vê a beata e faz um gesto com a cabeça. Ela, em obediência
canina, dobra-se, apanha a prisca referenciada, entrega-lha e corre a
enfiar-lhe novamente o braço, se ele deixar, até à próxima. Ele fuma e
ela vai feliz.
Os dois são um filme mudo. Isso, uma fita das antigas, num
preto-e-branco fatela.
Digo, seria um casal patusco, se não fosse trágico: quando lhe apetece, o
filhodaputa bate na mulher.
Era assim. Mas há uns meses que o vejo sozinho pelas esquinas,
desamparado, perdido, dando-se ao trabalho de dobrar a espinha se quer
matar o vício. E faço votos para que ela apenas o tenha deixado, a ele. Está a ter o castigo que merece, e vai de mal a pior, porque Deus não dorme, excepto aos sábados. Agora o Governo até as piriscas lhe quer tirar. Bem diz o povo na sua indesmentível sabedoria: as desgraças são como as calças - vêm aos pares.
Bom dia Hernâni. Esta história é de roubar. Assim vou fazer meu Amigo. Abração
ResponderEliminarGrande abraço, meu irmão.
ResponderEliminar