sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Óscar Ribas 6

E como a água que chuchurreia no açude, Maria cantou flebilmente:
Minha mãe, minha mãe,
por que nasci?
Como cachorra fui comprada,
como cadela fui vendida!
Não tenho pai, nem mãe, nem irmãos!...
Sou como a galinha que não pensa e que só conhece o milho que lhe deitam...
Pela cobiça do dinheiro, meu tio me vendeu!
Vendeu-me porque não era meu pai,
vendeu-me porque não tinha coração!...
Calou-se. Tal como no primeiro dia de escravidão, as lágrimas, quais lavas de sua alma em fogo, borbulharam com a mesma intensidade.
Ouvindo aquela canção bárbara, o amo revolveu-se várias vezes na preguiceira: uma irritação surda fazia-lhe odiar a pobre escrava.
Na expansão da dor, Maria prosseguiu:
Ó Deus, Pai de toda a gente, livrai-me desta aflição! A morte espreita-me, a morte espera-me,
só lhe falta a ordem do meu vingador!
Ai, minha mãe, eu vou morrer!


"Ecos da Minha Terra", Óscar Ribas

(Óscar Ribas nasceu no dia 17 de Agosto de 1909. Morreu em 2004.)

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