Maria sem Tempo
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Maria sem Tempo caiu extenuada sob uma grande mangueira no meio do campo. Na perturbação da emoção profunda todas as ideias se lhe confundiram e o desvario completo entrou-lhe na mente.
Era aquilo a guerra e era o seu filho que a fazia contra ela. O homem dissera que era ele e a cantiga a não enganara. Para se encontrarem daquele modo vivera ela tão longos anos, penando pelos caminhos! À ideia de que pudera ter morrido aos golpes do filho estremecido, um calafrio sacudiu-a toda convulsivamente e por fim as pernas se lhe inteiriçaram. Depois, a necessidade de abandonar toda a esperança quebrou-lhe as derradeiras forças. Uma toalha de gelo espremeu-lhe o coração num grito de agonia infinita e Maria sem Tempo morreu.
Algumas horas depois formava-se uma trovoada e um raio caía sobre a árvore que abrigava o cadáver. A tempestade passou e os escravos que, voltando da roça, foram ver o tronco lascado descobriram a morta. Os respingos da chuva lhe tinham coberto o rosto de terra e os olhos esgazeados já pareciam olhar do fundo da sepultura. Um dos escravos se abaixou para lhos fechar, dizendo: "Coitada de Sinhá Maria! Vá que ela agora descanse de procurar o filho!..." E outro, velho, resmungou, sem saber que tão bem dizia: "Esta morreu de ser mãe..."
"Histórias Curtas", Domício da Gama
(Domício da Gama nasceu no dia 23 de Outubro de 1862. Morreu em 1925.)
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