O amor é infinito enquanto dura, dizia o poetinha Vinicius de Moraes. Outro artista do mesmo quilate, Salvador Martinha, deverá actuar em Fafe no dia 9 de Novembro próximo. A Câmara de Fafe, no seu sítio oficial, apresenta Salvador Martinha como "um dos maiores humoristas portugueses de sempre". Tem piada. A rapaziada do sítio oficial da Câmara de Fafe mede o sempre pela própria idade e acha que tem a ver com o gosto pessoal, não sabe que o sempre é mais antigo e de todos, que não começou com a televisão, com a SIC ou com a TVI. E ainda que tivesse começado...
Já agora, uma pitadinha das minhas Lições de História: o sempre começou, consoante as crenças de cada qual, com Adão e Eva da Bíblia ou com os macacos do 2001: Odisseia no Espaço. Persiste evidentemente um sempre anterior, perene, mas esse não se sabe, era Deus sozinho e não há registos. Para os portugueses o sempre começou pelo menos com Afonso Henriques, esse gabiru que vestia saias e batia na mãe. Um cómico! E depois sucederam-lhe Gil Vicente, Bocage, Rafael Bordalo Pinheiro, Vasco Santana, Parodiantes de Lisboa, José Vilhena, Raul Solnado, evidentemente Herman José e Ricardo Araújo Pereira, mais mil e quinhentos estandapers extraordinários e famosíssimos que eu desconheço, e sobretudo António Augusto Ferreira (pai do jornalista Carlos Rui Abreu), que todos os dias trazia anedotas frescas de Guimarães e, quiséssemos ou não, contava-as pelas noites dentro do Verão fafense, na "esplanada" do velho Peludo, temperadas com fininhos e tremoços. Depois ia para a Póvoa.
Para terem uma ideia de como o sempre é tão relativo, tomem conta desta: o Tónio Augusto jogava nos juniores da AD Fafe, no Campo da Granja, e uma vez rachou ou racharam-lhe a cabeça. Encostou ao banco, que era mesmo um banco, em madeira, corrido, ao fundo dos cinco réis de bancada, e o massagista, talvez o João Americano, tratava de enfiar-lhe uns agrafos no lanho escarrapachado e sanguinolento (não tenho a certeza se não estaria mesmo a ser cosido), mas ele não deixava, queria voltar ao jogo. Barafustava um, ralhava o outro, um a puxar para a frente e o outro a puxar para trás, escangalhados como parelha de bêbados matinais. Era de rir. O Tónio Augusto tinha muito mais piada do que o Salvador Martinha, com todo o respeito. O que faz dele, do nosso Tónio Augusto, um dos maiores maiores humoristas portugueses de sempre...
Mais informação sobre o espectáculo de Salvador Martinha em Fafe, aqui.
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