sábado, 8 de setembro de 2018

Maria Lúcia Medeiros

Chuvas e trovoadas

Dedo, dedal, de-mal, drapeado, debrum, debruado, dever, desfazer…
A caixinha de costura, a mesa comprida, sala imensa. Cabecinhas baixas, olhos fixos nas agulhas que mergulhavam rápidas, tecido claro, claro como a tarde modorrenta, se arrastando.
Vê-las ali, trabalhos manuais executando, era encher de graça e placidez um mundo de meninas laboriosas, aprendizes, um mundo comportado.
É claro que, de repente, um pé saía do sapato e escorregava pra debaixo da mesa. É claro também que gotas de suor brilhavam naquelas frontes tão claras. Mas entre linhas azuis e verdes, outras matizadas, os ouvidos abriam-se para o ruído das ruas.
E passavam vendedores de cascalho. E passavam vendedores de pipoca como havia ainda, quando em vez, bruscas freadas dos automóveis.
Mas, protegidas do mundo, abrigadas na imensa sala, as meninas costuravam.
A professora era paciente, mas exigente e cuidadosa. E as meninas… educadas, caprichosas, perfumadas.
Aula de costura! Caixinha arrumada, às quatro, em ponto, elas iam chegando e se
acomodando nas cadeiras.

[...]

Maria Lúcia Medeiros 

(Maria Lúcia Medeiros, popularmente conhecida como Lucinha Medeiros, nasceu no dia 15 de Fevereiro de 1942. Morreu no dia 8 de Setembro de 2005.)

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