sábado, 4 de agosto de 2018

José Cândido de Carvalho 5

Acabaram meus dias de vadiagem. Tomei respeito, não só pela herança de boi e pasto, como pela patente de coronel que em seguimento recebi. Veio comitiva garbosa trazer a regalia. A casa da Rua da Jaca, do jardim ao pé de abricó, ficou pejada de gente. Com tanta glória à disposição, pensei em tomar estado, o que era do muito empenho do Padre Malaquias. Além do mais, andava eu na casa dos trinta e tantos anos e meu novo viver pedia costela. Uma prima, filha do sepultado tio Tomé de Azeredo, ficou toda ensabonetada para meu lado. Morava longe, mas ao sentir cheiro de casamento voou em trem de ferro e veio desabar na Rua da Jaca. Não chegou a entrar em cogitação. Queria moça de bacia larga, onde eu metesse raiz de sujeito respeitoso, com criação de muitos meninos. A prima não servia - um bambu vestido era mais encorpado do que ela. Juca Azeredo, meu parente do Morro do Coco, estando em passadio de semana comigo, desaconselhou:
- Aquilo é tábua de passar roupa. Moça para o primo tem que ter coxão fornido, capaz de aguentar os repuxos.
Concordei. A prima, desconsolada de ver meu desinteresse, pronto voltou para a sua vida murcha. Nessa ocasião, fechei as portas da Rua da Jaca, com justificativa de que o Sobradinho precisava de mim:
- Melhor engorda do boi é o olho do dono.

"O Coronel e o Lobisomem", José Cândido de Carvalho 

(José Cândido de Carvalho nasceu no dia 5 de Agosto de 1914. Morreu em 1989.)

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