Tu morres todos os dias
Tu morres todos os dias
libertando telefonemas
diante da minha mágoa
exposta à ira dos dias
Levo-te cravos vermelhos
flores recentes da estação
morres e vais caminhando
sobre uma estrada de fumo
O lume que nos sustenta
já não cheira não tem vida
às vezes vens-me à lembrança
descalça ao longo da praia
Vivo terrores de madraço
com dívidas acumuladas
seguindo de perto o tráfego
saberei um dia amar-te
Tu morres tu pontificas
eu respiro a tua sombra
ai repouso do guerreiro
sobre o abismo repousas
José Afonso
(José Afonso nasceu no dia 2 de Agosto de 1929. Morreu em 1987.)
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