quinta-feira, 16 de agosto de 2018

António Botto 5

Não. Beijemo-nos, apenas,
Nesta agonia da tarde.


Guarda
Para um momento melhor
Teu viril corpo trigueiro.


O meu desejo não arde;
E a convivência contigo
Modificou-me - sou outro...


A névoa da noite cai.

Já mal distingo a cor fulva
Dos teus cabelos - És lindo!


A morte,
devia ser
Uma vaga fantasia!


Dá-me o teu braço: - não ponhas
Esse desmaio na voz.


Sim, beijemo-nos apenas,
Que mais precisamos nós?


"Canções", António Botto 

(António Botto nasceu no dia 17 de Agosto de 1897. Morreu em 1959.)

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