quinta-feira, 5 de julho de 2018

Tomaz de Figueiredo 4

Para quê me deste à vida?

Para que foi, ó Mãe, que me criaste?
Mas - antes! - para quê me deste à vida?
Emendando: porquê, de espavorida,
o pescoço me não estorcegaste?

Melhor andaras, Mãe, pois destinaste,
assim, a tua carne a ser perdida.
Ah! Mãe! Na tua gélida jazida,
saberás que, ao seres mãe, me assassinaste?

Se o sabes, no teu ventre, como cunhas,
deves cravar, em desespero, as unhas,
deves na campa estertorar aos ais.

Aqui estou, Mãe, agora, nestas ânsias.
Aqui estou, sem estar. Rojo em distâncias,
só e sem mim, - que é um só demais. 


"Antologia Poética", Tomaz de Figueiredo

(Tomaz de Figueiredo nasceu no dia 6 de Julho de 1902. Morreu em 1970.)

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