quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Waldemar Lopes 2

Soneto da insónia

Na emanação da noite o leve peso
das sombras ancestrais. Vozes tardias
em vago marulhar, talvez desprezo
às turvas ambições, seiva dos dias.

E sobre o ser profundo, vivo-aceso,
o lume das vigílias. (Nas sombrias
urnas do tempo há de ficar defeso
o enigma das mortais mitologias

imunes à esperança.) Agora é essa
onipresença onírica, ou apenas
a ácida indiferença à vã promessa:

em seu ambíguo reino indefinido
a consciência noturna sofre as penas
da vida, o rude esforço sem sentido.

"Memória do Tempo", Waldemar Lopes

(Waldemar Lopes nasceu no dia 1 de Fevereiro de 1911. Morreu em 2006.)

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