quarta-feira, 12 de abril de 2017

Tristão da Cunha

Virgem primitiva 

A pobre Ofélia deu-lhe os tristes olhos mansos
Onde bóia um luar de sonhos afogados;
Mãos piedosas dormindo em gestos resignados
De tarde, a meditar nos eternos descansos.

Ha idílios de irmãos, inviolados remansos,
Soluços de ternura, e sorrisos cansados,
E saudades que não vêm dos tempos passados,
No sobre-humano olhar daqueles olhos mansos.

Eu vejo-a morta já (que tristeza tão doce!...)
As mãos no colo em cruz e branca de alabastros
Noiva morta de amor na primeira manhã...

Na Via-Láctea que a leva, pura como a trouxe,
Florindo-lhe o caminho anjos espalham astro;
E a lua vai seguindo atrás, como uma irmã...

Tristão da Cunha

(José Maria Leitão da Cunha Filho, que assinava Tristão da Cunha, nasceu no dia 13 de Abril de 1878. Morreu em 1942.)

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