quinta-feira, 13 de abril de 2017

Soeiro Pereira Gomes 4

No último sábado, os moços do Telhal Grande receberam a féria com gritos de contentamento. As moedas não tapavam o fundo das algibeiras; mas os projectos transbordavam dos cérebros infantis. No dia seguinte abria a Feira; ia haver esperas de toiros e toiradas, circos e cavalinhos. Por isso, a
alegria dos rapazes punha em apuros o mestre, à hora do pagamento.
- Se não se calam, racho um! - vociferou ele, avançando para a porta da barraca.
Fez-se silêncio. Os que estavam mais próximos recuaram, temerosos. Mas logo Gineto gritou de longe: - O melhor é matar-nos!
- Para quê, pá? Só levava ossos... - comentou Sagui, indicando o corpo enfezado.
- Ou calam-se, ou paro com isto!
Calaram-se. Ficar sem féria seria perder a Feira. E a Feira era a verdadeira festa de despedida dos moços dos telhais. Cinco dias de pândega, entre um Verão de canseiras que findava e um Inverno de miséria que surgia. O pagamento prosseguiu.
 

"Esteiros", Soeiro Pereira Gomes

(Soeiro Pereira Gomes nasceu no dia 14 de Abril de 1909. Morreu em 1949.)

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