quarta-feira, 5 de abril de 2017

Gladstone Osório Mársico

O caixote foi aberto sem marteladas, os sarrafos praticamente arrancados à unha, com muita dor, gemidos por todos os lados cada vez que os pregos soltavam, tudo com a delicadeza de quem mexe no estojo duma bomba relógio. Finalmente, a exclamação geral de pasmo e surpresa quando o Telefunken surgiu inteirinho, todo encadernado numa caixa de imbuia preta, grande, imponente, igual àqueles móveis de sala, próprios de impressionar visitas.
- Eu não disse? - exaltou-se o Doutor. - Que perfeição, que técnica,
mein Gott! Quem é que faz coisa igual neste mundo? Aqueles polenteiros?
- E a voz? - perguntou Bernardo.

- Vai ver se esqueceram da acústica - conjeturou Seu Erostides.
-
Was? Oh, isso não é bem assim - ponderou o médico, ainda enlevado, tocando delicadamente na maravilha. - Se não mandaram o especialista, devem ter mandado as instruções nalgum lugar. Ja, temos que descobrir a bula! Só sei que a fala vem pelo ar e entra no aparelho como por encanto... Magisch, ja, magisch!
- Igual ao espiritismo? - quis saber Seu Erotides.
- Mais ou menos. Parece que o rádio faz às vezes de médium.


"Cogumelos de Outono", Gladstone Osório Mársico

(Gladstone Osório Mársico nasceu no dia 5 de Abril de 1927. Morreu em 1976.)

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