Por volta de 1980, Mário Wilson era o seleccionador nacional e também
treinador do Vitória de Guimarães, por onde passava pela segunda vez, se
não me engano. No Inverno, para poupar o relvado, único, do velho e
feio Municipal vimaranense, o Vitória ia às quartas ou quintas-feiras
treinar a Fafe, fazendo o chamado jogo-treino com os da casa. Eu
trabalhava lá, na Associação Desportiva de Fafe, tratava dos papéis, de
alguns inocentes papéis...
Mário Wilson é uma jóia de pessoa e foi um treinador sobretudo afectivo.
Gostava de falar com os seus jogadores um a um, como em confissão mas
passeando, colocando-lhes o braço paternal por cima dos ombros - vi
muitas vezes.
Um dia, numa daquelas quartas ou quintas-feiras, o Senhor Wilson
entrou-me no gabinete, que era por baixo das bancadas e por cima dos
balneários, cumprimentou-me como se eu fosse alguém e pediu-me se podia
usar o telefone para ligar à Federação. Eu teria para aí uns 21 ou 22
anos e "dei-lhe" autorização, armado em parvo com só naquela idade. Depois
de conseguir resposta do lado de lá da linha, o Velho Capitão foi ao
bolso do casacão de cabedal, rapou de um guardanapo de papel marcado com
beiçadas de verde tinto, estendeu-o em cima da minha secretária,
alisou-o o melhor que pôde e começou a ditar para Lisboa o que lá
escrevera eventualmente ao almoço. Eram nomes, uma lista, a convocatória
para a Selecção Nacional na campanha de apuramento falhado para o
Europeu de 1980, em Itália. Exactamente: a Selecção de Portugal estava
no guardanapo de Mário Wilson...
(Texto escrito e publicado no dia 21 de Junho de 2016, então com o título "Mário Wilson tinha a Selecção num guardanapo")
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