Alice
Os seus olhos são como os das pombas,
sem falar no que está oculto dentro.
Cântico dos cânticos
Imagina um sorriso só de criança,
Todo candura, e junta-lhe a meiguice
De um sorriso de mãe; e tens ideado
O sorriso de Alice.
Imagina um olhar - mistério e sonho,
Cheio de luz, de glória, de doidice...
Com a sedução dos olhos da mãe d’água:
E tens o olhar de Alice.
Imagina uma grave melodia,
Tão doce como nunca mais se ouvisse,
Como nunca se ouviu na terra ainda,
E tens a voz de Alice.
Já viste como o cisne fende o lago?
Como desliza a névoa na planície?
Como anda na clareira a pomba rola?
É ver o andar de Alice.
Olha o macio pétalo corado
De rosa que de todo não abrisse.
O mimo da conchinha nacarada
É a boca de Alice.
Se um dia visses no alcantil dos cerros
A imaculada neve que caísse,
Verias, ai de mim! do que é formado
O coração de Alice.
"Alvoradas", Lúcio de Mendonça
(Lúcio de Mendonça nasceu no dia 10 de Março de 1854. Morreu em 1909.)
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