Alguém
Para alguém sou o lírio entre os abrolhos,
E tenho as formas ideais do Cristo;
Para alguém sou a vida e a luz dos olhos,
E, se na Terra existe, é porque existo.
Esse alguém, que prefere ao namorado
Cantar das aves minha rude voz,
Não és tu, anjo meu idolatrado!
Nem, meus amigos, é nenhum de vós!
Quando, alta noite, me reclino e deito,
Melancólico, triste e fatigado,
Esse alguém abre as asas no meu leito,
E o meu sono desliza perfumado.
Chovam bênçãos de Deus sobre a que chora
Por mim além dos mares! Esse alguém
É de meus dias a esplendente aurora;
És tu, doce velhinha, oh minha mãe!
"Miniaturas", Gonçalves Crespo
(Gonçalves Crespo nasceu no dia 11 de Março de 1846. Morreu em 1883.)
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