quinta-feira, 21 de março de 2013

Dinis Machado

A tusa é que interessa, dizia Evaristo, vamos comer uma lagosta, os mariscos dão tusa, antigamente bastava-me mudar de mulher tinha logo tusa, mas agora as coisas são diferentes, percebo aqueles gajos que esfregam cuequinhas de renda nas partes baixas ou que dão pontapezinhos no bidé, interessa é estimular a tusa, o Zé das Roscas dizia que bastava um gajo pensar num buraco qualquer, fecha os olhos, dizia ele, e pensa num buraco, mas isso a mim não me dava tusa nenhuma, dava-lhe a ele porque o seu estado normal era ter tusa, uma vez, dizia, só numa semana, com a Belmira, que era a mais barata, nos buracos das paredes, num bocado de reposteiro de veludo que, enrolado, era uma tara, e sentado na retrete a ver revistas de mulheres nuas, só numa semana, dizia ele, tinham sido mais de cem vezes, eu seja ceguinho se não foram mais de cem vezes, até me chegou a faltar o ar, tenho de ir comprar pó de sulfamidas, dizia ele, a mão na algibeira das calças, acariciando o mastro, um destes dias caço o Poupinhas, aquele do terceiro andar, e toma, o Poupinhas dá-me cá uma tusa, tem uma pele branquinha, aqui há dias foram sete vezes numa só penada a pensar na barriga das pernas da Leninha, e naquela parte da curva das pernas que vai dar à coxa, acordei de noite com a barriga das pernas a mexerem-se à frente dos meus olhos, foram sete vezes, ali, na barriga das pernas e na curva, zaque, zaque, zaque.

"O Que Diz Molero", Dinis Machado

(Dinis Machado nasceu no dia 21 de Março de 1930. Morreu em 2008 e foi um erro.)

1 comentário:

  1. SPA - Arquivo da memória dos autores portugueses

    (...)E era de esquerda porque tinha o desejo de combater as injustiças do mundo.
    Tal como eu.

    Beijinhos
    Guida

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