sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Alves Redol 5

O ar viciado entontecia-o à entrada, mas depois acabava por se habituar, procedendo em tudo como no tempo em que conferenciava com o avô. Adivinhava que o espreitavam por toda a parte, donde se podia avistar o mirante. E ali se conservava durante uma hora, pelo menos, sempre de pé, em atitude respeitosa, junto da mesa onde Diogo Relvas permanecia embalsamado e jovial.
Tirava-lhe o chapéu, dava-lhe uns borrifos de éter e escovava-lhe as barbas e o cabelo, de maneira a evitar que tomassem aquele aspecto de juta velha. Depois abria as cortinas para que todos assistissem ao encontro, deixando cerrada a janela que deitava para o poente, não se desse o caso de o sol lhe queimar o velho.


"Barranco de Cegos", Alves Redol

(Alves Redol nasceu no dia 29 de Dezembro de 1911. Morreu em 1969.)

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