O Padre João Aguiar celebraria hoje 74 anos se não tivesse falecido no passado dia 27 de Abril. E pelo menos sorriria ao ler esta abertura assim tão idiota. João Aguiar Campos, a quem fizeram a desfeita de fazer cónego, foi um dos mestres da minha vida, e eu disse-lho em tempo útil, portanto não vou falar disso agora. Trago é aqui uns versinhos que são dele e que eu guardo há 50 anos. Mandei-lhos em fotografia pelo Natal de 2017, ficou admirado, não sabia deles, e constou-me que então os publicou nas suas redes sociais. O original continua comigo.
Os versos escreveu-os o Padre João Aguiar propositadamente para serem lidos na abertura de um concerto de Natal que o orfeão do Seminário de Filosofia gravou com meses de antecedência para a então Emissora Nacional no auditório do Conservatório de Braga derivado à acústica, sob a supervisão técnica e embebecida do maestro Silva Pereira, se não me engano. O ensaiador e regente do orfeão era o cónego José Sousa Marques, isto é, o famoso Galinhola, disso tenho a certeza. Eu e o Salomão lemos o poema, ao jeito de jograis, ora agora digo eu, ora agora dizes tu. Foi por alturas de 1974, depois meteu-se graças a Deus o 25 de Abril, eu implantei-o no seminário, levei um pontapé no cu e o concerto, tanto quanto sei, nunca foi emitido.
Sem mais delongas, o poema do Padre João Aguiar é assim:
Vieram de longe abraços amigos
trazendo o calor de muitas fogueiras.
Escorreram melodias
nos dedos das ruas,
abriram-se risos
nos rostos das montras.
Natal...
Correram as crianças,
falaram avós
dos tempos que foram
e não voltarão
Natal.
Desfilaram no musgo
soldados de chumbo,
presença involuntária
das guerras reais.
Natal.
Mas
porque perdemos nas mesas
as fomes alheias
e na corrida ao passado
as lágrimas de hoje?!
porque falamos de Deus
e esquecemos Seu nome,
olhamos a estrela
e destruímos a terra?!
porque mentimos cantando?
Filho de Deus,
tem piedade de nós!
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