quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Jogava-se ao tene, que era para todos

Jogava-se ao tene, no nosso largo. Tene, esclareça-se desde já, não é singular de ténis. Nem é sapatilha desirmanada nem nome que se dê ao jogo de ténis quando jogado por uma pessoa só. Nesse caso chama-se squash. Não. O tene era um jogo universal, de recreio, de rua, de pobres, envolvendo quantos mais miúdos melhor, sem necessidade de outros apetrechos ou equipamentos senão o próprio corpo e muita corda nos sapatos. Embora também se jogasse descalço. Ou de chancas. Ou, vá lá, de galochas...
As regras são simples. O objectivo do jogo é fugir ou tenir, conforme o ponto de vista. Escolhe-se à sorte um desgraçado, que deve tentar apanhar, isto é, tocar com a mão, os outros participantes. Um deles. E, uma vez conseguido, troca-se de posição. Quem foi apanhado, isto é, tocado, assume então a função de apanhador, o ex-apanhador passa a normal fugidor e assim sucessivamente.
Dir-me-ão então: ora, mas isso é o jogo da apanhada, ou o pega-pega ou pique-pega, se for no Brasil. Nada disso. Era o tene, o nosso tene. Porque, lá está, basta tenir, tocar levemente com a mão, com o dedo. Quem toca levemente, tene. Básico e inofensivo. O tene. Já o arranca-cebolas, por exemplo, implicava outra, por assim dizer, dinâmica e não raras visitas ao hospital.
Dir-me-ão então, e já estão a chatear: ora, mas não é tenir, é tinir, o verbo tenir não existe na língua portuguesa. Existe, existe, basta ir a Fafe e ouvir alguém que seja do falar antigo e que se lembre, claro que se lembra, do velho jogo e deste precioso regionalismo talvez baixo-minhoto e que pegou de estaca pelo menos ali na nossa zona. Ou onde é que cuidam que o bom do Costeado foi buscar o "Nem lhe teni, senhor árbitro!"?...

(Texto publicado originalmente no meu blogue Fafismos)

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