Foto Hernâni Von Doellinger |
Dia 12 de Abril de 2012. O superguindaste Titan, desactivadíssimo e declarado em avançado estado de degradação, estava a ser desmantelado no molhe sul do Porto de Leixões, junto ao terminal de cruzeiros em construção. Durante a operação, a cabina de uma das gruas da obra caiu sobre uma conduta de gás, provocando várias explosões e um enorme incêndio. Morreu um trabalhador.
O Titan, símbolo de Leixões e de Matosinhos, desaparecia em tragédia, apagando-se compulsivamente dos nossos belos pores-do-sol. Considerado uma importante peça da arqueologia industrial, mesmo em frente à minha varanda se eu me puser de lado, os seus restos foram despejados e esquecidos num canto manhoso junto à Docapesca, encostado à rua dos restaurantes de peixe e dos turistas, a apodrecer como o lixo desleixado que por ali fede.
Passou o tempo e veio a ferrugem. O renascimento do Titan foi sendo anunciado pelo Governo, pela Câmara de Matosinhos e pela APDL, ao sabor dos ciclos eleitorais, primeiro em 2019 e depois em 2020. Prometia-se a construção de uma réplica inoperacional do velho gigante para fins eventualmente culturais mas certamente turísticos, ou, como quem diz, pelo menos para propaganda. E finalmente em Outubro de 2021 a coisa foi inaugurada, e por acaso até calhou bem porque um mês depois eram as eleições autárquicas.
O Titan, símbolo de Leixões e de Matosinhos, desaparecia em tragédia, apagando-se compulsivamente dos nossos belos pores-do-sol. Considerado uma importante peça da arqueologia industrial, mesmo em frente à minha varanda se eu me puser de lado, os seus restos foram despejados e esquecidos num canto manhoso junto à Docapesca, encostado à rua dos restaurantes de peixe e dos turistas, a apodrecer como o lixo desleixado que por ali fede.
Passou o tempo e veio a ferrugem. O renascimento do Titan foi sendo anunciado pelo Governo, pela Câmara de Matosinhos e pela APDL, ao sabor dos ciclos eleitorais, primeiro em 2019 e depois em 2020. Prometia-se a construção de uma réplica inoperacional do velho gigante para fins eventualmente culturais mas certamente turísticos, ou, como quem diz, pelo menos para propaganda. E finalmente em Outubro de 2021 a coisa foi inaugurada, e por acaso até calhou bem porque um mês depois eram as eleições autárquicas.
Quanto aos alquebrados ossos do velho Titan, o verdadeiro, as memórias visíveis e palpáveis do "maior guindaste a vapor do mundo", utilizado na construção do Porto de Leixões, no século XIX, por ali continuaram, junto à vedação, partilhando a desmemória com o também abandonado rinque do Futebol Clube Senhor do Padrão, que eu não sei o que é feito dele.
Até que esta semana. No princípio da semana, sem pompa nem circunstância, suponho que também sem aviso, e se calhar por vergonha, o que restava do velho Titan, o genuíno, foi desaparecendo aos bocadinhos, um dia atrás do outro, até que o canto ficou vazio, ainda mais triste, ainda cercado por baias metálicas como se viesse aí a Volta a Portugal e por aquelas folclóricas fitas de plástico que costumam interditar os locais de crime.
O velho Titan, o verdadeiro, foi finalmente embora, sem uma festa de despedida, sem umas palavrinhas a abater, obrigadinho ó mano e faz favor de desculpar!, sem sequer missa de undécimo ano, pelo menos que se soubesse. Foi-se sem honra nem glória. E sem croquetes e sem zumba. Sem convidados, sem ministros, parece impossível em Matosinhos, sem batedores da polícia nem polícia municipal, sem Joel Cleto e sem Luísa Salgueiro e demais autoridades locais, civis, religiosas e militares. E portanto sem televisões, que ainda nem fazem ideia e hoje já é sábado.
Pela minha parte, digo: adeus, velho Titan! Morreu o guindaste! Viva o guindaste! O de imitação, mas é que temos...
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