Uma vez, aqui há uns anos, Portugal acordou alvoroçado com o escândalo da "alegada" espionagem das secretas a um jornalista do Público denunciada pelo Expresso. Chamadas aos microfones, as costumeiras virgindades rasgaram as vestes de indignação, clamaram aos céus contra a gravidade da violação da lei, pediram inquéritos. Isso: seguindo a habitual cábula, sobretudo pediram inquéritos. Pedro Passos Coelho, que estava primeiro-ministro, também pediu. E a Procuradoria-Geral da República prometeu investigar o caso.
Palavra de honra, não percebo as razões de semelhante escarcéu. Mas quê, esta gente toda acha mesmo que os serviços secretos fazem o seu trabalho dentro da lei e que só daquela vez é que mijaram fora do penico? Então não faz parte dos serviços secretos andarem por dentro dos nossos telefones e computadores em geral? Mas para que é que servem os serviços de espionagem? Não é para espiar? Estavam à espera de quê? E os jornalistas não podem ser espiados? Mas podem espiar? E violar o segredo de justiça e desbundar escutas? Afinal o que é que tanto incomoda estes indignados cavalheiros: o acto de espionagem em si ou o facto de se saber dele?
São ingénuos? Não. São hipócritas.
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