Adoro ver aquele modo de confecção improvável, os ingredientes inovadores, variados e mínimos, o requinte e a cerimónia, a delicadeza, a anorexia na dose, a obra de arte final, aquela espécie de ilha cubista no meio do prato em branco, adornada com bagas, com ervas inventadas, com sucos e espumas, com salpicos e rabiscos de geleias coloridas. Salpicos e rabiscos aparentemente displicentes porém profundamente cultos. Adoro!
Adoro ouvir aquelas palavrinhas francesas, parecem palavras mágicas, nominhos de perlimpimpim. Adoro!
Tudo muito confitado, muito braseado, muito abisnagado, muito resumido, muito em cama de. Adoro!
E a frescura?, ui, sobretudo muita frescura! Adoro!
Mal termina o programa, e enquanto ainda está fresco, salto para a cozinha, enfio dois bolinhos de bacalhau da véspera dentro de meio biju ressesso, bebo um copo de verde branco, atiro-me à galinha de arroba que a minha mãe me mandou de Fafe e faço a boa e ancestral arrozada de cabidela. A cabidela monumental e histórica. E vai para a mesa no panelão, fumegante como uma velha locomotiva a vapor. Ah, caralho!, então é que eu me regalo...
E a frescura?, ui, sobretudo muita frescura! Adoro!
Mal termina o programa, e enquanto ainda está fresco, salto para a cozinha, enfio dois bolinhos de bacalhau da véspera dentro de meio biju ressesso, bebo um copo de verde branco, atiro-me à galinha de arroba que a minha mãe me mandou de Fafe e faço a boa e ancestral arrozada de cabidela. A cabidela monumental e histórica. E vai para a mesa no panelão, fumegante como uma velha locomotiva a vapor. Ah, caralho!, então é que eu me regalo...
P.S. - Publicado originalmente no dia 19 de Agosto de 2011, sob o título "Adoro, adoro, adoro!". Felizmente também há em Portugal quem saiba, pratique, ensine e divulgue a cozinha tradicional portuguesa. Cozinha a sério (à séria, se lido em Lisboa), rica, recompensadora, essa, sim, coisa cultural. Por falar nisso: a Senhora Dona Filipa Vacondeus morreu no dia 6 de Janeiro de 2015.
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