terça-feira, 24 de agosto de 2021

A alma acústica da obra

Corrido o ano de 2012. Um monte de fardos de palha era a grande atracção da Capital Europeia da Cultura que montou tenda em Guimarães. Parece que a palha, segundo contava então o jornal Público, não deixava ninguém indiferente à passagem pela Cidade Berço. "Há quem abrande ou conduza com a cabeça de fora da viatura", informava o jornal, sem precisar infelizmente: cabeça de fora para quê?...
A mim, no entanto, tocou-me muito mais o projecto "Vi:Ela Sentada", da autoria do escultor sonoro e plástico João Ricardo de Barros Oliveira. A instalação constava de 20 cadeiras e 40 camisas brancas penduradas num estendal. As camisas. As cadeiras, desta vez, não. Um trabalho sem objectivo e sem mensagem, nas esclarecedoras palavras do artista. A inspiração veio-lhe obviamente do dióspiro, numa ocasião em que passou por uma viela, ouviu uma conversa entre mulheres e uma sardinha caiu de uma varanda e escorregou num guardanapo que estava a secar, afogando-se, a sardinha, num balde de lampreias. Depois foi só pesquisar a alma acústica e a obra nasceu.
A lógica é uma batata e a arte pode ser um dióspiro. A palha é apenas palha. Abro aqui uma excepção no Tarrenego! e condescendo ao YouTube. Aproveitem estes intensos dez minutos. Até ao fim, até ao tutano. Às vezes a cultura é uma coisa muito bonita.


P.S. - Publicado originalmente no dia 15 de Agosto de 2012, sob o título "Quando a arte é um dióspiro". Hoje, 24 de Agosto, é Dia Internacional da Música Estranha. E é também Dia do Artista.

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