José Ornelas, bispo de Setúbal, é o novo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa. E na sua primeira entrevista nacional vai logo directo ao assunto: a Igreja não pactuará com abusos sexuais. Os abusos sexuais de que a Hierarquia portuguesa nunca soube, não sabe, nunca viu, nunca ouviu, não tomou conhecimento nem desconfiou, mas está contra, pelo menos de quinze em quinze dias, o que não deixa de ser curioso e suspeito. Em Fevereiro do ano passado já o cardeal de Lisboa, Manuel Clemente, encurralado pelo discurso de Natal do Papa Francisco, admitira "reforçar" o que é feito pela Igreja Católica em Portugal para prevenir os abusos sexuais e apoiar as vítimas. Isto é: nada.
Tomo a velha novidade de hoje como um bom fundamento para reciclar o que aqui escrevi sobre o tema, entre Dezembro de 2011 e Setembro de 2019, do texto mais recente para o mais antigo:
Por pensamentos, palavras, actos e omissões
Deus ensinou-nos - porque foi Deus que inventou a religião, católica apostólica romana evidentemente, e inventou a liturgia, a cor dos paramentos, as mitras e o báculos, o beijo no anel e as isenções fiscais, as côngruas e as catequistas, e inventou as orações e a culpa -, Deus ensinou-nos a confessar que pecámos "muitas vezes por pensamentos e palavras, actos e omissões". Deus, que não dá ponto sem nó, deixou as omissões para o fim para que não nos esquecêssemos. Como se nos avisasse: - Meu filho, deixa-te de tangas, omitir, sim, é pecado, é pecado, e já me tens à perna!...
Quanto à pedofilia e outros abusos sexuais no seio da Igreja portuguesa, os nossos bispos são sobretudo omissos, quer-se dizer, pecadores. Não fizeram, não viram, não ouviram, não conhecem, não sabem. São omissos com quantos dentes têm. O último a meter o pé na argola foi o arcebispo de Braga, Jorge Ortiga, numa recente entrevista ao Observador. O Dr. Jorge Ortiga, que em tempos admirei pelo seu entusiasmo e contagiante militância em favor da actualização e abertura da Igreja pós-Concílio Vaticano II (dizia-se aggiornamento, lembram-se?), subiu a bispo, ainda por cima de Braga, e parece que caducou. Também ele não sabe nada sobre pedofilia e outros abusos sexuais no seio da Igreja. Embora eu saiba que muitas pessoas sabem que o arcebispo sabe muito mais do que diz não saber. Omisso? Homessa!
Cardeal-patriarca fala do que não sabe
Manuel
Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa, não sabe nada de casamento - o
que até se compreende, porque é solteiro. Também não sabe nada de sexo -
o que se pode aceitar, porque certamente nunca praticou. Ainda assim,
ignorante em toda a linha, debita palpite sobre os dois assuntos,
defendendo que os católicos recasados "em situação irregular" devem ser
aconselhados a viverem sem relações sexuais.
Manuel Clemente,
cardeal-patriarca de Lisboa, sabe muito bem da pedofilia na Igreja
portuguesa. Falando do que sabe e do que realmente lhe diz respeito,
gostaria de o ouvir propor que os padres devem ser aconselhados a
deixarem as pilinhas dos meninos em paz.
Bispo pede campanha contra pedofilia na Igreja
O título
deste texto é mentira, e o que se segue também. O bispo de Viana do
Castelo, Anacleto Oliveira, apelou hoje ao Presidente da República para
"liderar a mobilização de toda a nação" numa "causa nacional" contra a
pedofilia na Igreja, por considerar que o que tem sido feito "não
chega".
"Nada há de mais poderoso e eficaz [do] que um povo
inteiro unido pela mesma causa, no comum modo de viver e pensar, numa
mesma cultura", fez notar o prelado, defendendo que "chegou a hora" de o
País "gritar bem alto: basta de pedofilia nos colégios católicos, nos
seminários e nas sacristias".
A última parte desta última parte
também é inventada. A versão verdadeira, que tem a ver com incêndios e é
um bocado de rir, está no jornal Público, que copiou da agência Lusa.
Repiro: o título deste texto é mentira. E é pena.
Os gays, ou quando a Igreja não sabe ser mãe
Diz que vai
por aí uma certa e determinada confusão a propósito de umas tais
declarações da "psicóloga católica" Maria José Vilaça. A Psicologia
Católica é uma especialidade clínica (suponho) que eu ignorava, mas não
sou dos que negam à partida uma ciência que desconheço. Portanto...
Maria
José Vilaça diz que disse à revista Família Cristã que ter um filho
homossexual é como ter um filho toxicodependente. "Eu aceito o meu
filho, amo-o se calhar até mais, porque sei que ele vive de uma forma
que eu sei que não é natural e que o faz sofrer", diz que disse a
senhora doutora. Quer-se dizer, ter um filho homossexual ou
toxicodepente é o mesmo que ter um filho trolha que a mãezinha sempre
soube que nasceu para ser presidente da república. Isto é, ter um filho
homossexual, toxidependente ou trolha é praticamente como ter um filho
propriamente dito...
Também não sabia dos homossexuais
católicos, que certamente serão completamente diferentes dos
homossexuais protestantes, dos homossexuais ortodoxos, dos homossexuais
judeus, dos homossexuais budistas, dos homossexuais islâmicos, dos
homossexuais agnósticos, dos homossexuais ateus, dos homossexuais
bissextos e dos homossexuais apenas. Mas, palavra de honra, não quero
saber o que é que objectivamente os diferencia...
Mas
sei que, por exemplo, a Igreja Católica Apostólica Romana, que impõe o
celibato aos seus funcionários de topo (de padres ao Papa) e lhes exige
a castidade, desculpa-lhes o pinanço com mulheres, ainda que casadas, e
varre para debaixo do tapete o abuso sobre rapazinhos, posto que
inocentes. Os clérigos homossexuais que exigem os seus direitos também
me fazem rir, porque não sei qual foi a parte que eles não perceberam
quando, no acto da ordenação, perante família e testemunhas, se
deitaram no chão aos pés do bispo e aceitaram e juraram desatarraxar a
pila para todo o sempre, amém.
A ver se me explico: os padres
católicos, enquanto a "Lei" for lamentavelmente assim, não podem
reclamar direito a sexualidade de marca nenhuma - nem homo, nem hetero,
nem bi, nem pan, nem tudo ao monte e fé em Deus, nem sequer à punheta,
escusam de vir com paninhos quentes. Não há sexo para ninguém! Os padres
não podem ser sexuais.
O lamentável, o triste, o nojo é que a
Igreja instrumental, especialista circense em malabarismos hipócritas,
cirrosada em pecado e vício até aos entrefolhos, continue a oprobrizar
os seus filhos homossexuais que afinal nunca juraram a Deus castidade e
que só querem ser felizes com quem escolheram e acreditando e vivendo
em Jesus, tenham ou não cartão de católico em dia. Uma Igreja assim não
é boa mãe...
Igreja reúne-se de emergência
"A Igreja vai
reunir-se de emergência na segunda-feira, em Fátima", avisa o JN. Não
sei se é verdade, mas, a ser, é preciso tomar nota: em Fátima
evidentemente, e de emergência. E por que razão reúne a Igreja
portuguesa, de emergência, em Fátima? Por causa da pedofilia interna?
Não. Por causa da fome externa? Não. Por causa da pobreza geral? Não.
Por causa do desemprego dos outros? Não. Por causa da crise de vocações
sacerdotais? Não. Por causa da falta de povo e de fé nas igrejas e nas
procissões? Não. Por causa do burquíni? Não. Por causa dos incêndios de
Verão? Não. Por causa do terramoto em Itália? Não. Por causa dos
atentados na Turquia? Não. Por causa da guerra na Síria? Não, não e não.
"A Igreja vai reunir-se de emergência na segunda-feira, em Fátima, para
decidir a resposta a enviar ao Estado, que recentemente notificou a
maioria das 4376 paróquias a nível nacional para pagarem imposto
municipal sobre imóveis dos seus edifícios e terrenos."
O homem que sabia uma coisa terminada em "ia"
José
Policarpo sabia de uma coisa terminada em "ia". Pedofilia?,
perguntaram-lhe logo. Não, de pedofilia não sei nada, respondeu.
Compaixão?, insistiram. Vão-se lixar, isso não interessa para nada e
nem sequer termina em "ia", protestou o príncipe da Igreja na reforma.
Economia, sei é de economia, acabou por se abrir o emérito, parece que
um tudo nada afrontado com a maneira leviana como sindicatos e oposição
estão a governar Portugal. Ou então seriam gases.
E as provas? E os nomes?
A Conferência Episcopal
Portuguesa garante ter dado "passos muito concretos na luta contra a
pedofilia". Deu? Pois então que apresente provas, que diga nomes, como
exige àqueles que denunciam os abusos praticados no interior da Igreja.
Porque "não se deve dizer mais do que a verdade".
Os bispos e a pedofilia: mais um pequeno passo 2
Manuel
Morujão, padre porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, continua a
falar demais e a falar de menos. Agora a propósito da pedofilia no
interior da Igreja. É. Não têm emenda os nossos bispos: dão um passinho
em frente e logo dois passos atrás. Não têm emenda e não têm perdão.
Os bispos e a pedofilia: mais um pequeno passo
Eurico
Dias Nogueira, antigo arcebispo de Braga, é da minha opinião: a Igreja
Católica portuguesa "esteve demasiado calada" sobre os casos de
pedofilia que aconteceram no seu seio. Em entrevista à rádio Antena 1, o
prelado confirma ter informações de casos de abusos sexuais de menores
dentro da instituição, que critica por ter tentado "abafar" as
situações, sem "resolver" o problema. "Fazia-se isso secretamente", diz.
E
querem saber como é que a Hierarquia "abafava" os casos? Por exemplo,
mudando os padres pedófilos de paróquia em paróquia e de escola em
escola, assim multiplicando o número de vítimas.
Os nossos bispos, a pedofilia e a hipocrisia deles
José
Policarpo, cardeal-patriarca de Lisboa, garantia em Dezembro do ano
passado, meia dúzia de dias antes do Natal, que não conhecia casos de
pedofilia na Igreja portuguesa. Mas também dizia que o melhor era não
"deitar foguetes antes da festa, porque um caso pode sempre aparecer".
Pois pode e é preciso ter cuidado. Não faltam por aí manetas, por eles,
os foguetes, lhes terem rebentado nas mãos - avisei eu.
Ontem,
José Policarpo anunciou que os bispos portugueses querem que as vítimas
de abusos sexuais por parte de membros do clero participem os casos "às
autoridades civis competentes".
Não sei se o cardeal arrepiou
caminho apenas para salvar as mãozinhas ou se teve um rebate de
consciência. Mas este desafio dos bispos, tal como foi lançado cá para
fora, enrodilhado em alegadas questões legais (e não morais, valha-nos
Deus), é uma indecência e de uma hipocrisia e crueldade para com as
vítimas que envergonham o Jesus Cristo que as excelências
reverendíssimas deviam pregar e viver.
Quem é esta gente que fala
em nome da minha Igreja e já não sabe o que é o amor ao próximo e a
caridade cristã? O que é que acontece a esta gente quando se veste de
vermelho, para tão escandalosamente desdenhar dos mais fracos e
indefesos, dos estropiados?
E, no entanto, José
Policarpo e os seus bispos (não sei quem os empurrou) deram um passo em
direcção à verdade: há pedófilos e vítimas de pedofilia na Igreja
portuguesa. A Hierarquia anda muito devagar e por isso eu só lhe peço
que tente, para já, mais um passo. Um pequeno passo até ao enorme tapete
para baixo do qual tem varrido, pelo menos ao longo dos últimos
quarenta anos, os diversos casos de abusos sexuais sobre menores que
conhece e a que fecha os olhos. E que tenha a dignidade mínima de
expor, expurgar e fazer castigar os violadores e não as vítimas.
O cardeal e os foguetes
O cardeal-patriarca de Lisboa garantiu ontem, em entrevista à rádio TSF e ao jornal Diário de Notícias, que não conhece casos de pedofilia na Igreja portuguesa. Mas, à cautela, acrescentou que "não podemos estar a deitar foguetes antes da festa, porque um caso pode sempre aparecer". Faz muito bem o senhor D. José Policarpo. Foguetes, não! Ainda lhe rebentam nas mãos.
Sem comentários:
Enviar um comentário