quarta-feira, 6 de maio de 2020

Luiz Pacheco 8

Coro de escarnho e lamentação dos cornudos em volta de S. Pedro 

Monólogo do 1.º cornudo 

Acordei um triste dia
Com uns cornos bem bonitos.
E perguntei à Maria
Por que me pôs os palitos.

Jurou por alma da mãe
Com mil tretas de mulher
Que era mentira. Também
Inda me custava a crer...

Fiquei de olho espevitado
Que o calado é o melhor
E para não re-ser enganado,
Redobrei gozos de amor.

Tais canseiras dei ao físico,
Tal ardor pus nos abraços
Que caí morto de tísico
Com o sexo em pedaços!

Esperava por isso a magana?
Já previa o que se deu?...
Do além vi-a na cama
Com um tipo pior do que eu!

Vi-o dar ao rabo a valer
Fornicando a preceito...
Sabia daquele mister
Que puxa muito do peito.

Foi a hora de me eu rir
Que a vingança tem seus quês:
"O mais certo é práqui vir,
Inda antes que passe um mês".

Arranjei-lhe um bom lugar
Na pensão de Mestre Pedro
(Onde todos vão parar
Embora com muito medo...)

Passava duma semana
O meu dito estava escrito
Vítima daquela magana
Pobre tísico, tadito!
[...] 

"Textos Malditos", Luiz Pacheco

(Luiz Pacheco nasceu no dia 7 de Maio de 1925. Morreu em 2008.)

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