À noite
Eis-me a pensar, enquanto a noite envolve a terra,
Olhos fitos no vácuo, a amiga pena em pouso,
 Eis-me, pois a pensar... De antro em antro, de serra
 Em serra, ecoa, longo, um requiem doloroso.
 No alto uma estrela triste as pálpebra descerra,
 Lançando, noite dentro, o claro olhar piedoso.
 A alma das sombras dorme; e pelos ares erra
 Um mórbido langor de calma e de repouso...
 Em noite assim, de repouso e de calma,
 É que a alma vive e a dor exulta, ambas unidas,
 A alma cheia de dor, a dor cheia de alma...
 É que a alma se abandona ao sabor dos enganos,
 Antegozando já quimeras pressentidas
 Que mais tarde hão de vir com o decorrer dos anos.
"Mármores", Francisca Júlia
(Francisca Júlia nasceu no dia 31 de Agosto de 1871. Morreu em 1920.)
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