sexta-feira, 8 de junho de 2018

Alda Lara 2

Presença africana

E apesar de tudo,
ainda sou a mesma!
Livre e esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou.
Mãe-África!


Mãe forte da floresta e do deserto,
ainda sou,
a irmã-mulher
de tudo o que em ti vibra
puro e incerto!...


A dos coqueiros,
de cabeleiras verdes
e corpos arrojados
sobre o azul...


A do dendém
nascendo dos abraços
das palmeiras...


A do sol bom,
mordendo
o chão das Ingombotas...


A das acácias rubras,
salpicando de sangue as avenidas,
longas e floridas...

Sim!, ainda sou a mesma.

A do amor transbordando

pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11... Rua 11...)


pelos negros meninos
de barriga inchada
e olhos fundos...


Sem dores nem alegrias,
de tronco nu e musculoso,
a raça escreve a prumo,
a força destes dias...

E eu revendo ainda
e sempre, nela,
aquela
longa historia inconsequente...


Terra!
Minha, eternamente...


Terra das acácias,
dos dongos,
dos cólios baloiçando,
mansamente... mansamente!...


Terra!
Ainda sou a mesma!


Ainda sou
a que num canto novo,
pura e livre,
me levanto,
ao aceno do teu Povo!...


Alda Lara

(Alda Lara nasceu no dia 9 de Junho de 1930. Morreu em 1962.)

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