segunda-feira, 5 de junho de 2017

Léo Vaz 2

O grêmio

Naquele tempo, em Ararucá, era coisa simples a fundação de um grêmio literário ou de uma sociedade recreativa, dançante, esportiva ou de qualquer outro intuito.
Estava a gente à esquina, nalguma tarde de discussão, versando a arte, a moral, a literatura, a religião, o extremo-oriente e outros assuntos mais ou menos embicantes nos interesses ararucaenses quando a prosa, de repente, numa síncope brotada das nossas opiniões alfim unanimisadas, morria de todo.
Ficávamos, então, ali, ruminando em silêncio os últimos silogismos, quando algum de nós, de digestão mental mais rápida, irrompia:
- Por que não fundamos um grêmio literário aqui nesta terra?
Os outros, despeitados, inopinadamente concordavam:
- É verdade; por que não fundamos?
- Sim; uma sociedade literária com gabinete de leitura e um salão para conferências. Em Ararucá há elementos: eu, vocês, o Juca da farmácia, o Bernardino do 1.º ofício... e quem mais?
- O Maneco.
- Que Maneco?
- O Maneco Borba, da loja do Abrão.
- O quê?... um caixeiro!...
- Sim; ele é caixeiro; mas lê muito. E lê em francês, até!...
[...]

Léo Vaz

(Léo Vaz nasceu no dia 6 de Junho de 1890. Morreu em 1973.)

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