O grêmio
Naquele tempo, em Ararucá, era coisa simples a fundação de um grêmio literário
ou de uma sociedade recreativa, dançante, esportiva ou de qualquer outro
intuito.
Estava a gente à esquina,
nalguma tarde de discussão, versando a arte, a moral, a literatura, a religião,
o extremo-oriente e outros assuntos mais ou menos embicantes nos interesses
ararucaenses quando a prosa, de repente, numa síncope brotada das nossas
opiniões alfim unanimisadas, morria de todo.
Ficávamos, então, ali,
ruminando em silêncio os últimos silogismos, quando algum de nós, de digestão
mental mais rápida, irrompia:
- Por que não fundamos um
grêmio literário aqui nesta terra?
Os outros, despeitados,
inopinadamente concordavam:
- É verdade; por que não
fundamos?
- Sim; uma sociedade literária
com gabinete de leitura e um salão para conferências. Em Ararucá há elementos:
eu, vocês, o Juca da farmácia, o Bernardino do 1.º ofício... e quem
mais?
- O
Maneco.
- Que
Maneco?
- O Maneco Borba, da loja do
Abrão.
- O quê?... um
caixeiro!...
- Sim; ele é caixeiro; mas lê
muito. E lê em francês, até!...
[...]
Léo Vaz
(Léo Vaz nasceu no dia 6 de Junho de 1890. Morreu em 1973.)
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