Foto Hernâni Von Doellinger |
A ordem natural das coisas
O Paços de Ferreira de José Mota, o Rio Ave de Carlos Brito, o Vitória de Setúbal de Manuel Fernandes, o Nacional de Manuel Machado, o Aves do Professor Neca, o Boavista de Manuel José, a Académica de Vítor Manuel, o Varzim de Henrique Calisto (foto), o Marítimo de Nelo Vingada, o Salgueiros de Filipovic, o Vitória de Guimarães de Jaime Pacheco, o Chaves de Raul Águas, o Belenenses de Marinho Peres, o Farense de Paco Fortes, o Portimonense de Vítor Oliveira, o Gil Vicente de Álvaro Magalhães, o Beira Mar de António Sousa, o Braga de Manuel Cajuda, o Felgueiras de Jorge Jesus, o Riopele e o Tirsense de Ferreirinha, o Infesta de Augusto Mata, o Fafe de Nelo Barros, e o FC Porto campeão. Assim eram as coisas e estava tudo certo, eu entendia-me com o futebol e era feliz. Era adepto. Agora? Agora o futebol está de pernas para o ar, chama-se "o jogo" e tem transições e claques profissionais pagas a peso de ouro (ou ao peso do que o receptador aceitar), ninguém é de ninguém, o Benfica ganha há quatro anos e eu sinto-me perdido...
A bola, como uma mulher
O futebol pode ser uma coisa muito bonita. Se o pequeno astro argentino Lionel Messi estiver em campo, então é de certeza. Lembro-me de um jogo da Liga dos Campeões, há alguns anos, em que o craque do Barcelona brilhou como nunca: marcou cinco em sete, bateu recordes, mas não é a quantidade que aqui me interessa - é a qualidade. A qualidade de um jogador que descansa mais do que corre, e que não corre, desliza. Que não se esfarrapa, mas pensa. E que pensa e cria como respira. A sofreguidão é uma cena que não lhe assiste. Os seus golos são obras de arte, actos de amor.
Messi conhece como ninguém, a cada momento, o ponto G da jogada que ainda nem lhe chegou aos pés. Ele adivinha o sítio onde a bola o vai procurar. Recebe-a com um beijo, oferece-lhe flores, acaricia-a, leva-a a passear, e ela gosta, retribui os carinhos, abraça-se-lhe à chuteira num abraço só desfeito no exacto momento do remate. Digo mal. Mas qual remate? Messi não chuta, passa a bola à baliza e é golo. O pequeno Messi é um cavalheiro, um amante delicado e atencioso: trata a bola como ela merece. A bola, como uma mulher...
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