segunda-feira, 12 de junho de 2017

Abelardo Romero

Ode a um cajueiro

Cajueiro,
cajueiro,
velho cajueiro em flor
que afundas tuas raízes
na frouxa terra cansada
onde vovô
te plantou.

Quando nasci
já eras velho,
e florescias na terra
onde vovô
descansou.

Todo janeiro
floresces.
Eu todo junho
envelheço.

Nosso destino é avesso,
mas igualmente tristonho:
tu não comes de teu fruto,
nem eu vivo de meu sonho.

Cajueiro,
cajueiro,
velho cajueiro em flor,
Nenhum de nós é feliz...

Vivemos presos à terra
em que vovô
nos plantou:


tu preso pela raiz,
eu preso por meu amor,

cajueiro,
ó cajueiro,
velho cajueiro em  flor.

"Exílio em Casa", Abelardo Romero

(Abelardo Romero nasceu no dia 13 de Abril de 1907. Morreu em 1979.)

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