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O padre Antônio de Sá é, pois, ainda junto de Antônio Vieira, um luminoso vulto da tribuna sagrada no século décimo sétimo.
Assim começou no Brasil a tribuna evangélica, que desde tão cedo ergueu voos de condor altivo; assim começou com oradores de primeira ordem em nosso país o púlpito, que tão grandes triunfos alcançou desde seu berço. Costumam as primeiras composições ser fracas e quase tentames dos talentos, que se esforçam por subir a regiões mais elevadas, quais aves implumes que experimentam o voo temerosas; e quase sempre desencontrados e confusos são os prelúdios de harpa dedilhada por mãos novéis. Como Palas, porém, que saiu armada do cérebro de Júpiter, a Eloquência sagrada levantou-se de seu berço, ostentando brilho e grandeza; compensou o gênio à novidade, e o engenho fez por si, apesar da falta de modelos, o que o tempo com sua escola de aperfeiçoamento não promovera; assim Vieira fez-se ouvir claro, erudito e eloquente; assim Antônio de Sá mostrou-se elegante, pomposo, animado e grande. Que mais pudéramos desejar no meado do século XVII, século de mau gosto em Portugal, idade de ferro da literatura portuguesa? Quando a linguagem estava corrompida, as ideias amesquinhadas, entronizado o gongorismo e escurecido o céu das letras, pudéramos esperar maiores padrões de glória do que os que nos deixaram esses dois grandes oradores? [...]
"O Púlpito no Brasil", Ramiz Galvão
(Ramiz Galvão nasceu no dia 16 de Junho de 1846. Morreu em 1938.)
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