quarta-feira, 31 de maio de 2017

António Feijó

Eu e Tu
 
Dois! Eu e Tu, num ser indissolúvel! Como
Brasa e carvão, centelha e lume, oceano e areia,
Aspiram a formar um todo - em cada assomo
A nossa aspiração mais violenta se ateia... 
 
Como a onda e o vento, a lua e a noite, o orvalho e a selva,
- O vento erguendo a vaga, o luar doirando a noite,
Ou o orvalho inundando as verduras da relva -
Cheio de ti, meu ser de eflúvios impregnou-te! 
 
Como o lilás e a terra onde nasce e floresce,
O bosque e o vendaval desgrenhando o arvoredo,
O vinho e a sede, o vinho onde tudo se esquece,
- Nós dois, de amor enchendo a noite do degredo,
 
Como parte dum todo, em amplexos supremos
Fundindo os corações no ardor que nos inflama,
Para sempre um ao outro Eu e Tu pertencemos,
Como se eu fosse o lume e tu fosses a chama.

"Sol de Inverno", António Feijó

(António Feijó nasceu no dia 1 de Junho de 1859. Morreu em 1917.)

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