O... poema a um pai adotivo
Pai, quando você morrer
eu não vou chorar
pra compensar todo o pranto que
você me obrigou a derramar.
Pai, quando você morrer
eu não quero lembrar sua existência
pra compensar toda a vida que você
esqueceu que eu tinha.
Pai, quando você morrer
eu vou pôr roupa branca
pra compensar toda paz que você
me impediu de ter.
Pai, quando você morrer
eu não vou à missa
pra compensar os pecados que eu
paguei mesmo inocente.
Pai, quando você morrer
eu quero gritar bem alto
pra compensar toda mágoa,
que você me fez sofrer calado.
Pai, quando você morrer
eu vou levantar os olhos
pra compensar todas as vezes que
eu chorei cabisbaixo.
Pai, quando você morrer
eu vou tomar um porre
pra compensar todas as vezes que
você me aporrinhou.
Pai, quando você morrer
eu vou cuspir todo o ódio
pra compensar o instante em que
você me cuspiu de sua vida.
Pai, quando você morrer
eu vou te olhar de frente
pra compensar todas as vezes que
você me deu as costas.
Mas pai...
Enquanto você for vivo
eu vou escrever um livro
pra dizer que não sou culpado.
Pois quem me dera que, ao invés de
adotivo, viciado, marginal e
revoltado,
eu fosse só, tão-somente um menor
abandonado.
"A Queda para o Alto", Anderson Herzer
(Anderson Herzer nasceu no dia 10 de Junho de 1962. Morreu em 1982.)
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