quinta-feira, 14 de abril de 2016

Fernando Namora 4

Poema de amor

Se te pedirem, amor, se te pedirem
que contes a velha história
da nau que partiu
e se perdeu,
não contes, amor, não contes
que o mar és tu
e a nau sou eu.

E se pedirem, amor, e se pedirem
que contes a velha fábula
do lobo que matou o cordeiro
e lhe roeu as entranhas,
não contes, amor, não contes
que o lobo é a minha carne
e o cordeiro a minha estrela
que sempre tu conheceste
e te guiou - mal ou bem.

Depois, sabes, estou enjoado
desta farsa.

Histórias, fábulas, amores
tudo me corre os ouvidos
a fugir.


Sou o guerreiro sem forças
para erguer a sua espada,
sou o piloto do barco
que a tempestade afundou.

Não contes, amor, não contes
que eu tenho a alma sem luz.

...Quero-me só, a sofrer e a arrastar
a minha cruz.


"Relevos", Fernando Namora

(Fernando Namora nasceu no dia 15 de Abril de 1919. Morreu em 1989.) 

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