terça-feira, 5 de abril de 2016

Celestino Alves

Seca

Meu Deus, grande martírio ameaça o Norte,
donde a razão do que sofremos nós?
Será que a seca, este inimigo forte,
é um castigo pavoroso e atroz?

Sei bem que o homem é um pecador completo,
mas, sei de Ti, que o todo Teu é santo,
Sofremos nós do Teu juízo reto,
porém os brutos, por que sofrem tanto?

No pátio o gado ou por qualquer recanto
sofre em lamento, no seu triste urrar,
e o fazendeiro, na sua dor de espanto,
vive a canseira do seu labutar.

Seguindo o sertanejo a mendigar,
procura auxílio de um alguém que passa,
e, longe a roça que deixou, na praça,
vaga o destino de mais se humilhar.

Bem pode a seca calcinar o Norte,
desabitar o meu sertão amado,
fundir a terra, destruir o gado,
há porém sempre no sertanejo um forte.

"O Nordeste e as Secas", Celestino Alves

(Celestino Alves nasceu no dia 6 de Abril de 1929. Morreu em 1991.)

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