Foto Hernâni Von Doellinger |
Fui à farmácia comprar o antibiótico. A senhora doutora farmacêutica perguntou-me:
- Marca ou genérico?
- O mais barato, se faz favor. Pode ser de saldo, se tiver, ou mesmo em segunda mão, se for em conta - respondi.
Veio o antibiótico. Genérico.
- São seis euros e setenta e nove - informou-me a senhora doutora farmacêutica.
- Seis euros e setenta e nove? - espantei-me. - Mas o senhor doutor médico escreveu aqui na receita que, e passo a citar, "esta prescrição custa-lhe, no máximo, 77 cêntimos, a não ser que opte por um medicamento mais caro"...
- Pois, mas não ligue a isso. É o que eles têm lá no sistema. O preço muda ao fim de três meses - disse-me a senhora doutora farmacêutica.
- Mas a receita é de hoje, fresquíssima - atalhei.
- Pois, mas é o sistema - reiterou a senhora doutora farmacêutica.
- E o sistema "deles" não é o mesmo sistema das farmácias? Entre 77 cêntimos e seis euros e setenta e nove vai uma diferença de quase dez vezes mais, como é que isto é possível? - inquiri e tornei a inquirir.
- Faça o favor de ver aqui no computador. Na verdade há mais barato, este de três euros e quinze, mas que hoje, por acaso, até já custa cinco euros e trinta e sete, e não temos - explicou-me a senhora doutora farmacêutica.
- Mas a custar 77 cêntimos é que nada - insisti.
- Nem de perto nem de longe, é o sistema - insistiu, por seu lado, a senhora doutora farmacêutica.
- E os senhores doutores médicos sabem? - eu.
- Sabem, sabem - a senhora doutora farmacêutica.
- Desculpe voltar ao mesmo: mas então porque é que os senhores doutores médicos escrevem estes preços nas receitas se sabem que estão a enganar os doentes?
- É para pressionar as farmácias - segredou-me a senhora doutora farmacêutica, chegando-se-me ao ouvido.
- E tem resultado, não tem? - devolvi-lhe eu, no mesmo tom confidencial.
(Texto escrito e publicado no dia 16 de Agosto de 2014. E repetido quando os jornais, em Fevereiro do ano passado, descobriram que a Administração Regional de Saúde do Norte descobriu que havia "farmácias a vender genéricos demasiado caros". Vamos em 2016 e as farmacêuticas continuam comerciando à Lagardère com a saúde das pessoas. Mas porque é que ninguém me pergunta?)
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