Depois de uma quinta-feira particularmente violenta, com doze horas na Urgência do Hospital de Santo António e chegada a casa cerca da uma da madrugada, a sexta-feira do meu sogro foi de alguma, lenta e não garantida recuperação. Mas nesta manhã de sábado ele estava provavelmente melhor, bem disposto, disponível para me ajudar ao seu conforto possível. Demos as voltas que foram precisas. Vim almoçar.
Tornei. À tarde, o meu sogro estava de trombas e a fazer de conta que dormia. Quando está zangado com a realidade que lhe passa pela cabeça, o meu sogro faz de conta que dorme, mas, esta parte tem piada, faz de conta muito mal. Disse-lhe, como de costume, "Sr. Carvalho, abra os olhos, se faz favor, precisamos de tratar de si, eu sei que o Sr. Carvalho não está a dormir, e o Sr. Carvalho também sabe que não está a dormir, vamos lá, ajude-me".
Que se segue? Bato e rebato à porta do esquecimento, o meu sogro faz de conta que acorda de repente, mas continua a fazer de conta muito mal, o que me faz rir e obriga-me a dar-lhe um abraço e um beijo extra na careca. O meu sogro gosta que eu lhe dê beijos na careca e diz-me obrigado. Pergunto-lhe: - Ó Sr. Carvalho, então estava tão bem de manhã, porque é que está agora tão mal disposto? O meu sogro responde-me, a voz entaramelada e cara de mau: - Como é que eu posso estar bem disposto, se vou para a tropa?
Compreendi-o perfeitamente. Eu próprio ainda não recuperei de vez da minha passagem pelos Comandos, e mais era rapaz e razoavelmente desembaraçado. Imagino, portanto, a angústia do meu sogro, com o comboio a sair de Campanhã dali a um quarto de hora, obrigado a ir para a tropa aos 85 anos e sem sequer conseguir pôr pé fora da cama. Por isso, prometi-lhe solenemente: "Não se preocupe, Sr. Carvalho, no dia do juramento de bandeira lá estarei e levo-lhe um merendeiro como manda a sapatilha". Que sim.
Mais um abraço, e o resto da tarde correu com um belo sorriso nos lábios.
P.S. - No tempo de outras lucidezes, o meu sogro gostava de contar-me que foi "condutor auto" em Vendas Novas e que os anos de tropa foram os melhores da sua vida.
Sera que o senhor Carvalho, nos poucos momentos de licidez, se é que os tem, se apercebe da sorte que teve com o enfermeiro que lhe tocou em sorte ?
ResponderEliminarO Gaspar disse tudo. Sem tirar nem pôr!
EliminarGrande abraço,
P.
Abraço, P. Abraço, Gaspar.
EliminarAssim são os grandes HOMENS! Parabéns Nane por teres o Coração que tens!!!! Abraço Miguel
ResponderEliminarNão exageremos. Abraço, Miguel.
EliminarSe a tivesses, até eu te dava um beijo na careca! Abraço
ResponderEliminarcm
Grande abraço, amigo cm.
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