terça-feira, 12 de novembro de 2019

O circo éramos nós

Compreendo as bancadas vazias dos circos. Os circos são, por estes dias tristes e desesperançados, um luxo e uma redundância. Um anacronismo. A magia e o sonho são delito. A felicidade foi proibida por decreto. A gargalhada, se for popular, é considerada um desperdício. A "escola moderna" é aquela que ensina que a "vida não é só alegria", diz o ministro Nuno Crato. A escola moderna é aquela que fecha, digo eu. Não há dinheiro, não há circo.
O circo somos nós - camelos, ursos, jacarés em camisolas contrafeitas, asnos e leões mansos. Homens-bala de pólvora seca, malabaristas, contorcionistas, ilusionistas, equilibristas, palhaços - somos nós, porque nos mandam e porque somos o único circo a que temos direito. Vivemos na corda bamba e sem rede. Tiraram-nos a rede, esticam-nos a corda, caímos que nem tordos sem capacete. Por mim, deixo em testamento: quando já não houver ninguém em cima dela, podem também levar a corda. Usem-na.

Por outro lado: o circo está na cidade. E eu vou-me rir, vou-me rir, vou-me rir.

P.S. - Texto publicado originalmente no dia 25 de Outubro de 2012, em plena vigência do governo da troika e Passos Coelho.

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