- Bom dia, Senhora da Misericórdia!...
- Olá, Maria das Dores, há um ano que não nos víamos...
- Saio pouco, enjoo na viagem...
- E eu também, são estes solavancos, estes salamaleques, estas ladainhas altifalantadas, estes tambores, este sol, este povo...
- O nosso povo, não é?
- No dia do anho parece que sim, de resto nunca sei dele...
- Mas a senhora está muito bem.
- E a senhora também.
- Porém os anos...
- A quem o diz...
- Por falar nisso, tinha qualquer coisa para lhe dizer...
- E eu também, mas não me lembro...
- Bem, vou-me lá...
- Realmente, são que horas, vá indo que eu vou do meu vagar...
- Então adeus, até para o ano...
- Se Deus quiser. Adeus.
P.S. - Publicado originalmente no dia 8 de Julho de 2018. Hoje,
segundo domingo de Julho, é dia da Senhora de Antime. Mas, por
causa do coronavírus , não há arraial nem romaria. Nem sequer procissão -
uma decisão triste mas imperiosamente sensata. Portanto também não há o
encontro das duas senhoras. A procissão da Senhora de Antime, digo-o
aqui para quem não sabe, é provavelmente a melhor procissão do mundo. É o
povo que desce inteiro com as senhoras, primeiro à vila, agora à
cidade. É uma procissão tremenda e comovente, multitudinária e única,
uma procissão a sério - A Procissão -, como costumo explicar aqui aos
meus vizinhos que ficam banzados com a meia dúzia de almas penadas e a
dúzia e meia de cabeçudos da Câmara que todos os anos acompanham a
imagem do Senhor de Matosinhos pelas ruas da cidade, num deserto que só
visto. Pode ser que para o ano...
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