Eu tenho um cão. É um cão imaginário. O meu cão chama-se Parkinson,
porque quando quero chamar por ele nunca me lembro do seu verdadeiro
nome que é Alzheimer. A raça do meu cão tem dias, vantagem de ser
imaginário: às segundas é perdigueiro, às terças é labrador, às quartas é
são bernardo, às quintas é pastor alemão, às sextas é dálmata e aos
fins-de-semana é sobretudo rafeiro. O meu cão nasceu no país certo.
O meu cão fica-me muito em conta. Não come mas cala, dispensa vacinas e
vitaminas, nunca vai ao veterinário, não precisa de casota nem de
agasalhos para o Inverno, e só me custa o preço da trela. O meu cão
conhece o dono e não morde a mão que não o alimenta. Se todos fôssemos
cães assim, vínhamos mesmo a calhar ao Governo da Nação.
O meu cão faz-se muito bem de morto e corre atrás de qualquer merda que
lhe atire. Só lhe falta falar. O meu cão não ladra às pessoas, não
fornica as pernas transeuntes, não abocanha, não caga no passeio, não
mija nos pneus do carro do vizinho, não tem pulgas nem chatos, nem anda
por aí a emprenhar cadelas mais ou menos oferecidas. É como se não
existisse. O meu cão é um exemplo de cidadão.
Já mo quiseram comprar e eu não o vendi. Foi um vendedor de ilusões.
Oferecia-me um país inteiro sem pretos em troca do meu cão. Nã! Antes
quero o cão. E os pretos!
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