Andam aos pares, como o Senhor mandou para a arca, aos pares e de
Bíblia na mão, e vê-se logo que são boas pessoas. Missionam a bom
missionar, de porta em porta, no meio da rua, sujeitam-se a
malcriadezas em nome da fé que têm para dar e vender, e dou-lhes valor
por isso. Um par interpelou-me um destes dias, ali em baixo, no passeio
à beira-mar onde às vezes montam banca:
- Um minutinho, por favor,
já pensou no que lhe acontecerá quando morrer? E porque morremos? Não
quer saber a verdade acerca da morte?
Eu, que achei a abordagem um
bocado desajeitada e tétrica, desnecessariamente radical, resolvi
dar-lhes uma ajuda, recentrando o assunto:
- Não é nada da morte que me querem falar, pois não? A morte até poderia ser um bom princípio, em termos de marketing,
de aproximação tablóide à clientela, quero dizer, mas vocês querem é
falar-me da vossa Igreja, querem converter-me à vossa Igreja, querem
anunciar-me Deus, o único verdadeiro, Jeová, é ou não é?
Era.
-
Então, em verdade vos digo, assim será feito - disse eu, com voz de
sarça ardente ditando leis -, ouço-vos, vocês falam-me da vossa Igreja e
de Jeová, mas só se também me derem tempo de antena para eu vos falar
de uma mobília de sala de jantar muito jeitosa que tenho para vender.
-
Mas para que queremos nós ouvi-lo falar acerca da mobília de sala de
jantar, se temos uma praticamente nova, estamos tão bem servidos e não
precisamos de mudar? - respondeu o par em coro e percebi logo que, para
além de par, formava também casal.
A resposta era mesmo a que me calhava, portanto sentenciei:
-
Pois, caríssimos irmãos, eu e Deus é a mesma coisa: já tenho um e
estou muito contente com Ele. Vou agora trocar, porquê? E amém.
Eu sei que fui (sou) um bocado parvo. Mas correu bem. Vendi-lhes duas mobílias de sala de jantar.
P.S. - Publicado originalmente no dia 30 de Dezembro de 2015. Há quem diga que hoje, 14 de Junho, é Dia Universal de Deus. Sobretudo no Brasil.
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