terça-feira, 22 de junho de 2021

Deuses do Olimpo

Foto Hernâni Von Doellinger

Aos domingos de manhã eles lá estão e são os meus ídolos. Jogam à bola porque gostam, são amigos e compinchas, para além disso dá-lhes imenso jeito ganhar apetite para o almoço, Deus os farture. Jogam a sério, têm árbitro, capitães de equipa, minuto de silêncio, estão organizados, já vi assembleias gerais antes dos prélios e minis geladinhas ao intervalo. Há os da praia seca e, no quintal dos fundos, os da praia molhada. A paixão pelo futebol é a mesma, tremenda e pura. Olímpica. São amadores como quer dizer a palavra.
Eles são o meu Mundial, o meu Europeu, e jogam futebol na praia - não confundir com futebol de praia. Em Matosinhos, fora da época balnear. São regra geral gordos e não têm cortes de cabelo idiotas, se descontarmos os carecas. Aqui não há mialgias nem lombalgias, ditas de esforço, mas haverá se calhar diarreias e ataques de fígado, o que se compreende perfeitamente. Aqui não há hooligans nem claques "organizadas". Não há cláusulas de rescisão, mas há multas por atrasos ou faltas, provavelmente para serem gastas à mesa. Não há paineleiros nem considerações filosóficas, psicotácticas e tibiotársicas. Não há último terço do terreno nem quarto segredo de Fátima. Para o espectador, então, é um luxo: vê pelo menos seis jogos ao mesmo tempo e ao vivo, enquanto faz a caminhada pela marginal, e depois é só direccionar a cabeça para o campo certo quando ouve... "Gooolooo!!!"...
E isto, é preciso que se note, sem precisar de telecomando.

P.S. - Publicado originalmente no dia 3 de Fevereiro de 2014, sob o título "O futebol realmente". Hoje, 23 de Junho, celebra-se o Dia Olímpico.

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