O homem que se esqueceu de dizer virilhas sou eu, passe a imodéstia. Por razões que não vêm ao caso, ultimamente
tenho de usar muitas vezes a palavra virilhas. Ora acontece que, quando a
quero dizer, ela - a palavra virilhas - não há maneira de me sair,
geralmente varre-se-me da memória, e nem sequer posso alegar que a tinha
na ponta da língua, porque também é um bocado chato. Nessas delicadas
ocasiões vêm-me à cabeça a palavra narinas, sempre gostaria de saber
porquê, a palavra tomates, é claro, e a palavra ínguas, sobretudo a
palavra ínguas, que emerge do meu antigamente fafense e parece-me que anda por lá perto. Mas virilhas é que nada.
Fico consideravelmente encaralhado, e hoje por acaso não estou a
inventar. Estou a ser o mais palavra de honra que há. Palavra de honra.
Que se segue: conto aos meus amigos a aflição deste estúpido bloqueio, e
um diz-me - Quantos anos tens? Pois. Não ligues, pá, é normal, pá, é da
idade, pá. Até tem piada. Comigo é a mesma merda, mas com a palavra
pevides. Isso não é grave.
Não é grave, vírgula - isto já sou eu outra vez. Porque não se pode
comparar virilhas com pevides. E pevides de quê? Pevides secas ou
frescas? Nacionais ou importadas? Para aperitivo ou sementeira? Por
outro lado, quando eu preciso da palavra virilhas é geralmente para a
dizer a senhoras. E, na angustiante ausência da palavra, acabo por
acudir-me das mãos e do gesto para conseguir explicar-me. Estão a ver
onde me agarro? E acham isso bonito?
quarta-feira, 10 de março de 2021
O homem que se esqueceu de dizer virilhas
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário