quinta-feira, 14 de maio de 2020

Quando Manuel Pinho foi assobiado e gostou

Estava aqui a mexer nuns papéis (de vez em quando é preciso mexer nos papéis, isto é, pegar nos papéis que estão na gaveta de cima e metê-los na gaveta de baixo, para, passados uns meses, pegar nos papéis que estão na gaveta de baixo e metê-los na gaveta de cima), estava aqui a mexer nuns papéis, dizia, e reencontrei-me com esta singela porém significativa história:
Era o ano de 2008. Manuel Pinho, o excelente e videirinho ministro da Economia que se desgraçou por causa dos corninhos malandros feitos na Assembleia da República, foi ao Estádio Nacional entregar a taça ao vencedor do Estoril Open. Que nessa edição foi Roger Federer, para que conste. E Pinho levou a vaia da ordem. É uma tradição do torneio: assobiar o vaidoso do Governo que lá vai fazer figura de urso. Mandaram-me ligar-lhe no dia seguinte, para saber como é que ele encaixou a humilhação. Davam-se sempre essas encomendas a caminho do impossível, falar com os cabeçudos. E eu, calhou, apanhei-o.
Mas qual humilhação? Manuel Pinho estava satisfeitíssimo da vida, ria-se, e explicou-me porquê: "Toda e gente me disse que, de longe, fui o ministro menos assobiado dos últimos anos"...

Moral da história: os assobios são como alguns pronomes, relativos. 


P.S. - Publicado originalmente no dia 10 Fevereiro 2017. O jornal 24horas nasceu em 1998 e morreu em 2010, um ano depois de os seus alegados responsáveis terem liquidado a Redacção do Porto, a sangue frio e pelas costas. Eram os primeiros dias de Maio quando nos despejaram no desemprego, e podem limpar as mãos à parede. Mas tinha piada o pasquim, que até chegou a ser bem feito, e é a bíblia do jornalismo que hoje se faz em Portugal.

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