Uma
vez eu era chefe e um chefe mais chefe do que eu telefonou-me, de
Lisboa evidentemente, a reclamar que era preciso "foder" uma certa e
determinada pessoa de quem eu era chefe, mas menos, no Porto. Eu disse
que não. Que não "fodia". E expliquei-lhe. Primeiro porque não se
"fodem" pessoas, ainda que fossem incertas e indeterminadas; segundo
porque eu não "fodo" ninguém, por uma questão de princípio e suspeito
que também de religião; terceiro porque eu resolveria facilmente o
assunto sem "foder" um camarada, isso é que é liderança e competência;
quarto porque eu não admitiria nem mais uma sugestão, insinuação sequer,
daquele género.
O
chefe que era mais chefe do que eu e estava evidentemente em Lisboa, comunista medalhado e, foi-se a ver, especialista em despedimentos colectivos, acusou-me de bonomia, enquanto baixava a
crista e metia o rabo entre as pernas, tanto quanto me deu para ver pelo
teclado nojento do velho telefone. Bonomia, eu? Fiquei "fodido". Fui ao
dicionário e afinal achei muito bem.
P.S. - Publicado originalmente no dia 7 de Agosto de 2019. O jornal 24horas nasceu em 1998 e morreu em 2010, um ano depois de os seus alegados responsáveis terem liquidado a Redacção do Porto, a sangue frio e pelas costas. Eram os primeiros dias de Maio quando nos despejaram no desemprego, e podem limpar as mãos à parede. Mas tinha piada o pasquim, que até chegou a ser bem feito, e é a bíblia do jornalismo que hoje se faz em Portugal.
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