sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Pio Vargas 3

Os sons do ofício

É por­que re­co­lho o vá­rio
no avi­á­rio das vér­te­bras
e me há um si­lo de cé­lu­las
e me há um qua­se-aquá­rio,
que o po­e­ma se me che­ga,
es­tu­á­rio.


Que me im­por­ta
a si­na ju­gu­lar das fa­ses,
a vi­da con­ju­gal das fra­ses
e o sem­blan­te cí­ni­co
das fe­zes,
se não fa­ço po­e­mas
co­mo quem de­fen­de tes­es.


Fa­ço po­e­mas
pa­ra que pas­sem os di­as
e pas­cem os re­ba­nhos
e os oce­a­nos pas­mem
an­te o nau­frá­gio
de to­das as da­tas
no ca­len­dá­rio-la­nho.


Ou se­ja, fa­ço-os
co­mo quem vi­ce­ja
os la­ços do ar­re­mes­so
co­mo quem vis­lum­bra
si­lên­cio nos en­tu­lhos
e apren­deu a es­tru­tu­ra ide­al
pa­ra mon­tar ba­ru­lhos
sob a lín­gua mais ba­nal.


Fa­ço-os
co­mo quem lam­be oá­sis no pla­nal­to,
dei­xa­do pe­las ba­ses
de um sim­ples so­bres­sal­to.


É co­mo se o ego
cou­bes­se in­tei­ro
na de­ter­mi­na­ção de um pre­go
que me fi­xa exí­li­os sob a car­ne
mas que tam­bém acio­na
os ga­ti­lhos do alar­me.


Pio Vargas 

(Pio Vargas nasceu no dia 7 de Setembro de 1964. Morreu em 1991.)

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