E agora, depois
Ele era doce e sedutor. E fora ele quem a tornara mulher. Com aquele seu jeito delicado e sutil, sua sabedoria singela, seu jeito coerente e equilibrado, jeito de quem conhece a vida. Experiente, ele a conquistara. Jovens ainda, no âmago da maturidade; ele era um homem e ela era uma mulher. Ele se foi, ela partiu e ambos se encontravam amiúde. Aqui e ali, dançavam nas madrugadas, bebiam, conversavam e sorriam mãos entrelaçadas. Encontros impermanentes; amigos, namorados, amantes. Prelúdio fugaz. Melodia perfeita e uníssona, paz e imersão - um no outro. Iam e vinham pela vida, pelo mundo. Entre uma tarefa e outra, as palavras retomadas. Anos e anos fluíram e a conversa perpetuava-se. Amor-perfeito. Poucas palavras; consistência. Existência e mãos entrelaçadas. O sono acalentador em repouso. Um dia ele chegou imprevisível. E ela sentiu que seria a última vez. Despediu-se em cada instante, dançaram, abraçaram-se, beijaram-se. Estremeceu na música sublime. Ternamente como sempre, enlouquecidos de amor profundo. Não dormiram, e sob a lua tépida calaram-se. Azul noite, brisa que refrescava a pele. Mãos nas mãos. Sem palavras, despediram-se. A noite estendeu-se em gestos carinhosos, exaustão e adeus silencioso. Dormitaram e pela manhã, viveram. O corpo esgotado, sem palavras, o coração estremecido e no último instante o beijo insondável. (Adeus). Ela sofreu; profundamente. E agora, depois
"E Agora, Depois", Maria Christina de Andrade Vieira
(Maria Christina de Andrade Vieira nasceu no dia 8 de Maio de 1951. Morreu em 2011.)
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